Ex 20:13 - “Não matarás.”
Juntamente com o oitavo mandamento, esse
é um dos mandamentos mais breves da Lei-Palavra de Deus. Talvez seja por isso que
a grande maioria das pessoas tenha uma compreensão tão superficial dele. Muitos
quando ouvem a sentença: “Não matarás”, dizem: “Veja só, aqui está um
mandamento o qual eu nunca quebrei”.
Quando alguém diz isso, demonstra que
nunca compreendeu o real sentido daquelas palavras, nunca entendeu o princípio
por trás desta ordenança. Essa pessoa apenas leu a letra da lei e
esqueceu-se do seu espírito. Por trás de cada mandamento do Senhor há sempre um
princípio regente, uma norma. Este princípio deve ser compreendido
e assimilado à nossa vida para só então podermos cumprir as
exigências daquele.
Qual
é, então, o princípio do sexto mandamento? Qual o porquê desta ordenança?
O que o Senhor Deus quis dizer com o “não matarás”?
A Bíblia começa com o Deus vivo criando
coisas vivas - Rm 11:36. Tudo na vida deve sua existência a ele. Ele anima
todas as coisas. Em resumo, ele é o Deus da vida, um Deus que é vivo e que gera
coisas vivas. Mesmo quando o diabo tentou frustrar o seu espetáculo vivo,
introduzindo a morte – espiritual e física –, Deus a sobrepujou por meio de Jesus.
Nele estava a vida (João 1:4) e essa vida era como o alvorecer de um novo dia
trazendo luz para todos os homens e dissipando as trevas do maligno
(1 João 2:8). Em Jesus e por sua poderosa ressurreição à vida, Deus está
soprando nova vida num mundo tenebroso e caído (2 Coríntios 5:17).
Tudo isso está por trás das duas
palavras e seis consoantes do texto hebraico de Êx 20.13. Ele foi redigido de
forma tão simples quanto em nossa Bíblia em português e com notável brevidade:
“Não matarás”. Das três palavras hebraicas usadas na Escritura Sagrada para
descrever a perda da vida, aqui, é a mais raramente usada e é muito mais
específica. Normalmente, embora nem sempre, é usada em referência ao que
chamamos “homicídio”. Homicídio não é meramente o ato de tirar a vida de
alguém, mas de tirar a vida de alguém injustamente.
O
princípio que rege o sexto mandamento é o da proteção da vida.
Deus tinha em vista a
preservação da maior de todas as Suas criações: o homem, feito à sua
imagem Gn 1:27. João Calvino disse do sexto mandamento:(as) “Escrituras nos dão
duas razões sobre as quais se fundamenta o sexto mandamento. A primeira é
que o ser humano é feito à imagem de Deus; a segunda é que somos todos a
mesma carne. Portanto, agredir a vida, quer a de outro ou a nossa,
constitui desrespeito a Deus que imprimiu Sua imagem no homem. E como Ele
criou o gênero humano vinculando-o em uma unidade, foi-nos delegada a
função de preservarmos tal unidade pelo cuidado mútuo”.
O valor que devemos dar a
vida é porque Deus é Aquele que tira e que dá a vida. De modo, que tirar a vida
de alguém é pecar contra esse direito e autoridade divina.
O
lado positivo e negativo do sexto mandamento
Ninguém pense que
cumprirá o sexto mandamento apenas agindo de forma negativa (não matando
ninguém). João Calvino, patriarca da reforma protestante diz: “Há, portanto,
duas partes nesse mandamento: 1º não devemos oprimir ou estar em inimizade com
ninguém, e 2º não devemos apenas viver em paz com os homens, mas também devemos
ajudar o oprimido e resistir o mal”.
Quais
são os pecados Proibidos no sexto
mandamento?
1. O tirar a nossa
vida ou a de outrem. (Exceto no caso de justiça pública, guerra legítima ou defesa
necessária) - At 16:27-28; Nm 35:31,33; Ex 22:2.
2. A negligência ou
retirada dos meios lícitos e necessários para a preservação da vida
- Mt 25:42,43 - Tg 2:15,16. Não
apenas nós não devemos tirar a vida de alguém injustamente, mas também devemos
labutar com Deus pela preservação, proteção e promoção da vida. O sexto
mandamento exige todos os esforços lícitos para conservar a nossa vida e a dos
nossos semelhantes. Se está em nossas mãos o auxílio para conservar a vida do
próximo, devemos empregá-lo fielmente, a procurar o que for para a
tranquilidade dele, a vigiar para conter o que é prejudicial; se ele estiver em
perigo, a estender a mão em auxílio. Porque Deus é o Deus da vida e porque
somos os Seus filhos e aqueles que andam do modo como Ele anda (1 João
2.6), nós somos necessariamente aqueles que trabalham pela preservação,
proteção e promoção da vida. Esse mandamento, então, está profundamente
arraigado na natureza divina.
3. Os Sentimentos maus - Mt 5:22a; I Jo 3:15.
4. Todas as paixões excessivas e cuidados
demasiados, o uso inadequado de comida, bebida, trabalho e diversão -
Mt 6:31,34; Lc 21:34; I
Pe 4:3,4
5. Palavras provocadoras - Pv 15:1;
12:18; Mt 5:22b
6. A opressão, a contenda, os espancamentos, os
ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém - Is
3:15; Ex 1:14; Gl 5:15; Nm 35:16.
Quais
são os deveres exigidos no sexto
mandamento?
1. Todo empenho cuidadoso e todos os esforços
legítimos para a preservação de nossa vida e a de outros - Mt 10:23;
Sl 82:4; Dt 22:8; Pv 22:24,25
2. Fazer justa defesa da vida contra a violência
- I Sm 26:9-11; Pv 24:11,12
3. Paciência em suportar a mão de Deus -
Tg 5:8; Hb 12:5
4. Espírito manso e alegre - Sl 37:8,11;
Pv 17:22; I Ts 5:16
5. O uso sóbrio de comida, bebida, remédios, sono,
trabalho e lazer - Pv 25:16;
23:29,30; Is 38:21(remédio); Sl 127:2; II Ts 3:10,12; Mc 6:31.
6. Pensamentos e sentimentos puros, comportamento
e palavras pacíficas, brandas e corteses - Pv 10:12; Zc 7:9,10;
Cl 3:12
7. Longanimidade e prontidão para se reconciliar,
suportando pacientemente e perdoando as injúrias - Rm 12:18; I
Pe 3:8,9; Cl 3:13
8. Dar bem por mal, confortando e socorrendo os
conflitos, protegendo e defendendo o inocente - Rm 12:20-21; I
Ts 5:14; Pv 31:8,9; Is 58:7
Como
harmonizar o 6º mandamento com a pena de morte instituída por Deus em (Gn 9:6)?
Ou com as guerras e a questão de matar em defesa própria?
Como
vimos no início do estudo, palavra encontrada em Ex 20:13, no hebraico é
rasah e significa “o assassinato violento de um inimigo pessoal”
(II Rs 6:32). Por isso “não assassinarás” seria uma tradução
melhor. Este verbo nunca é usado para um assassinato em defesa própria (Ex
22:2), uma morte acidental (Dt 19:5), a execução de assassinos ou situação
de guerra (Gn 9:6), homicídio não premeditado (Ex 21:12-14) ou homicídio
acidental (Nm 35:23). Para estes casos existem seis outros vocábulos
hebraicos.
O
“não matarás” não pode ser uma reprovação à pena capital porque a lei de
Deus prescrevia a pena máxima nos seguintes casos:
(a)
assassinato premeditado (Ex 21:12-14);
(b)
sequestro
(Ex 21:16; Dt 24:7);
(c)
adultério
(Lv 20:10-21; Dt 22:22);
(d)
homossexualismo
(Lv 20:13);
(e)
incesto
(Lv 20:11,12,14);
(f)
bestialidade
(Ex 22:19; Lv 20:15,16);
(g)
desobediência aos pais (Dt 17:12; 21:18-21);
(h)
ferir ou amaldiçoar os pais (Ex 21:15; Lv 20:9; Mt 15:4);
(i)
falsas profecias
(Dt 13:1-10);
(j)
blasfêmias
(Lv 24:11-14);
(k)
profanação do sábado (Ex 35:1; Nm 15:32-36);
(l)
sacrifício aos falsos deuses (Ex 22:20).
O
sexto mandamento e a guerra
Os
pacifistas querem nos fazer pensar que esse mandamento proíbe a guerra
legítima. Entretanto, as guerras não podem ser proibidas por estas palavras
porque o próprio Deus foi, por várias vezes, o agente ativo de guerras no
AT. Ele ordenou guerras contra Amaleque (Ex 17:8-16; I Sm 1:7-9), contra
Jericó (Js 6:2ss), contra os filisteus (I Sm 1:7-14), contra os amonitas
(I Sm 11:1-11) e muitos outros.
Deus
é por várias vezes chamado de “homem de guerra” (Ex 15:3; Is 42:13). Um de
Seus títulos é “Senhor dos exércitos”. Muitas vezes Ele combateu sozinho
enquanto o exército de Israel só olhava (II Cr 20:17). Por isso os
israelitas jamais consideraram o sexto mandamento como uma proibição à
guerra, pois Deus não pretendera proibi-la.
IMPORTANTE
- A posição do
cristão frente à guerra deve ser motivo de reflexão e julgamento (sempre à luz
das escrituras), pois nem todas as guerras têm motivos justos, diferente de
Deus.
O
sexto mandamento, a eutanásia e o aborto
Eutanásia
significa literalmente “boa morte”. Ela é uma “prática pela qual se
procura dar fim ao sofrimento de um doente em estado terminal”.
A
eutanásia é uma tentativa de interferência na obra do Criador e
Conservador da vida (At 17:25; Sl 104:4-30; Ec 8:8), ela é fruto de um
humanismo egoísta e materialista que afirma que somente uma vida “útil” e
saudável é digna de ser vivida. Quando a vida em si já possui grande valor
porquanto é uma obra do Deus Criador.
O
aborto é a expulsão de um feto da barriga da mãe antes que ele complete
seis meses. Neste episódio ele ainda não possui condição de sobrevivência
no mundo aqui fora. Alegam-se, hoje em dia, quatro motivos “justificáveis” para
o aborto: 1. Motivo médico 2. Motivo ético/judicial 3. Motivo genético 4.
Motivo social. A possibilidade da eutanásia e aborto, livraria facilmente
famílias fracas e sem valor cristão, pois veriam aí uma saída “legítima”
para se livrarem de incômodos.
O
sexto mandamento e o ensino de Jesus na nova aliança
Mt
5:21-22 - A interpretação tradicional dada pelos fariseus é totalmente
contrariada por Cristo quando ele diz: “Ouvistes que foi dito” - “Eu porém, vos
digo”. Jesus afirma o princípio da
lei, dizendo que a ira sem motivo contra um irmão é o mesmo que homicídio
literal. Não somente isso, o Senhor também nos diz jamais devemos
proferir insultos contra o próximo. Jamais devemos manifestar desprezo por
alguém. Tolo (Raca no original,
significa “sujeito indigno”), tal expressão e similares demonstram os
maus desígnios do nosso coração. Mc 7:211 - Jo 3:15
“É verdade
que as mãos são quem levam a cabo o homicídio, mas o coração é quem o
concebe, quando se sente incendiado em ódio e em ira”.
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Nós
não podemos sequer pensar em tirar a vida de alguém injustamente sem pensarmos
em Cristo, cuja vida foi perdida nas mãos de homens ímpios e injustos. A
exigência de preservar, proteger e promover a vida foi completamente esquecida
enquanto eles crucificavam o nosso Salvador. Contudo, Deus estava operando ali,
satisfazendo a sua ira contra o pecado e preservando sua justiça ao perdoar
pecadores homicidas como nós, que injustamente tiramos a vida de outros com
nossas palavras, em nossos corações e por nossas mãos. E é essa graça que nos
motiva a sermos um povo da vida, trabalhando com toda a força que há em nós
para preservar, proteger e promover a vida, para a glória de Deus.
Conclusão:
Vamos concluir
com três aplicações práticas pra nós:
1 - A vida é um
dom de Deus, isso nos ensina que só Ele é quem tem direitos legítimos sobre
ela.
2 - Uma atitude
de covardia e omissão não deve ser confundida com a guarda do sexto mandamento,
pois nós temos que fazer algo para proteger a vida.
3 - Examinemos a
nós mesmos! Quantas vezes temos quebrado esse mandamento! Devemos orar por
arrependimento e, se porventura, temos algo contra alguém devemos perdoar e nos
reconciliar!
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